O que a gente percebe do universo é uma amostra microscópica do que realmente está acontecendo. Algo como 0,1% — sendo generoso. Neste exato instante, mais de 99,9% da realidade ao nosso redor é invisível aos olhos humanos.
O espectro eletromagnético deixa isso escancarado. Ondas de rádio que atravessam continentes e alcançam a ionosfera. Micro-ondas. Wi-Fi. Bluetooth. 5G. Radiação térmica. Infravermelho. Ultravioleta vindo do Sol. Tudo isso atravessa nossos corpos agora mesmo, sem pedir licença, sem deixar rastro visual algum. A realidade é um oceano de frequências, e nossos olhos são um canudinho.
Outros seres jogam esse jogo com sensores diferentes. A abelha enxerga padrões ultravioleta nas flores — verdadeiros mapas invisíveis para nós. Algumas cobras “veem” calor, detectando presas pelo infravermelho. Cada espécie habita uma versão própria do mundo, recortada por seus instrumentos biológicos de percepção.
Já o ser humano enxerga apenas uma faixa estreitíssima do espectro: algo entre 380 e 700 nanômetros. A ciência chama isso de luz visível. Todo o resto fica fora do palco da visão, mas não fora da realidade.
E ainda assim há quem diga, com confiança quase religiosa, que só acredita no que vê com os próprios olhos. É uma afirmação curiosa. A visão física, embora útil, é uma das formas mais limitadas de acesso ao real. Apoiar toda a noção de verdade apenas nela é como tentar entender uma sinfonia ouvindo uma única nota.
Enquanto alguém insistir que ver é sinônimo de compreender, continuará acreditando que domina o todo — quando, na verdade, está operando na faixa mais pobre da realidade. O universo não cabe na retina. Nunca coube.


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